domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quem tem medo de gente nas ruas?

Foi um fato que ocorreu em nossa cidade este ano no periodo de carnaval.
Toda a arte goiana e midia "marginal" está a par da situação, como sempre, somos nos mesmos que temos que fazer algo, divulgar o ocorrido, e tormarmos soluçoes cabiveis, entao nossa obrigação é o de alertar a massa, peço entao que leiam e reflitam, nao costumo colocar texto somente nas postagens mas essa é diferente, é o acumulo da ignorancia e repressao cultural, e gostaria de ver o resultado nos comentarios, fica aqui meu pesar de conduta daqueles que se acham a lei, e donos da razão, mas digo uma coisa, de todo o coração, pois o povo só nao vai mais mal, porque o pobre ainda faz carnaval.
Abraços
Daniel de Mello e a Música da Minha Gente

Quem tem medo de gente nas ruas?

Goiânia não tem tradição de carnaval de rua. Quando me mudei pra cá, há 16 anos atrás, vindo das Minas Gerais com minha família, praticamente não se ouvia falar de nada. Compareci certa vez a um dos desfiles das escolas de samba, que me parece ter sido o último antes do ostracismo que precedeu o recente retorno, no ano passado.
O retorno do carnaval de rua de Goiânia teve inicio no ano de 2006, quando o percussionista Alemão mobilizou o grupo que coordena, Coró de Pau, junto a outros grupos da cidade, como o Vida Seca, que eu participo, para realizarmos o encontro de blocos de rua durante o carnaval. Em 2007 ocupamos a Rua do Lazer e outras ruas do centro, realizando o desfile dos blocos e shows num palco montado no calçadão da citada rua.

Foram sucesso as duas edições realizadas por lá, em 2007 e 2008. Não houve registros de nenhum tipo de violência, e mesmo a PM não foi ostensiva como começou a ser a partir do ano passado. Com o retorno das escolas de samba, o carnaval passou então a ser realizado na Av. Araguaia, no trecho entre o Bosco Botafogo e o Parque Mutirama, no centro.

Mas ai é que tivemos a surpresa ao perceber que o contingente policial era muito grande, com presença da cavalaria e das tropas de choque, como a temida Rotam. Logo ali começamos a sentir saudades dos dois anos de Rua do Lazer. No entanto não nos abatemos e fomos para a folia. Ao final do primeiro dia de festa conhecemos então a equivocada e truculenta estratégia da PM goiana: dispersar o público logo ao final dos shows com um arrastão da cavalaria, truculento e agressivo, com pessoas agredidas no último dia de folia. Ali em 2009 já tivemos uma prévia do que aconteceria este ano.

Novamente estávamos lá na Av. Araguaia para apresentar o trabalho desenvolvido ao longo do ano e celebrar o carnaval. Novamente um ostensivo contingente policial. Mas agora a avenida cercada por grandes de contenção, numa tentativa totalmente oposta ao espírito do carnaval, pelo menos o cultivado pelos blocos de rua, que é o dos foliões estarem lado-a-lado com os blocos, numa simbiose que produz a verdadeira catarse carnavalesca.

Mesmo diante desses decepcionantes fatos tivemos a grandeza de nos divertir, com muita alegria, sem nenhum incidente. Ao final do show do grupo De Volta ao Samba, entra em cena a tragédia montada pela PM goiana. Uma linha de cavalaria se postou em frente ao palco, com policias a pé entre os cavalos e outros vindos pelas laterais. Começaram a avançar sobre o público, forçando uma retirada sem sentido, pois a festa havia acabado há poucos minutos, num horário inacreditável para uma folia de carnaval: 0h30. Além disso, onde está o direito de ir e vir, de ocupar os espaços públicos? O fato é que logo alguns homens da cavalaria começaram a se exaltar e manobrar agressivamente seus cavalos, spray de pimenta começou a ser disparado contra todas e todos e as cacetadas foram distribuídas sem nenhum comedimento, em mulheres e homens, em quem estivesse na frente dos ferozes policiais. Câmeras fotográficas que registravam as agressões foram roubadas e destruídas. Cinco pessoas que não fizeram nada foram presas por desacato, também de maneira brutal.
Mesmo depois de dispersarem as pessoas do trecho cercado, os policiais partiram para cima das pessoas que estavam no posto de gasolina próximo ao supermercado Tático e continuaram a agredir com cacetadas e spray pimenta.

Não nos intimidamos, apesar de agredidos brutalmente, e nos dirigimos ao 1º DP para prestar queixa e protestar pela libertação dos detidos. Nossa presença irritou os PMs que voltaram a nos ameaçar e agredir verbalmente, chegando a ponto de soltar bombas de efeito moral no pátio do DP.

Eu particularmente, depois de levar uma cacetada na cabeça da cavalaria, spray de pimenta na cara e apanhar com cacetadas de um policial a pé, ainda fui ameaçado de prisão no DP por estar “falando demais”. Outras pessoas foram ameaçadas por estarem fazendo o mesmo, usando nossas terríveis armas, as palavras. Nos jornais do dia seguinte a esdrúxula justificativa policial: alguém teria lhes alvejado com um perigoso copo plástico cheio de cerveja. Será isso um motivo razoável para agredir dezenas de pessoas? Será um copo plástico uma verdadeira agressão a alguém com colete a prova de bala? Não seria o caso então de buscar identificar a pessoa e prendê-la, isso olhando pela lógica da PM?

Enganam-se eles e o poder público reacionário de Goiânia quando pensam que vamos ficar quietos diante dessa agressão. Eles podem não acreditar no carnaval, os primeiros pela sua intrínseca brutalidade e os segundos por estarem permeados por religiosos que desprezam o carnaval, por ser uma festa pagã.

O direito de estar nas ruas seja no carnaval ou em qualquer outra ocasião não pode ser tirado do povo, mas é exatamente isso que o poder em Goiânia quer fazer: intimidar e controlar aqueles que querem ocupar espaços públicos para protestar, se divertir, ser irreverente, ser feliz. Mas não adianta, pois a brutalidade, o atraso que representam é um estímulo para aqueles que acreditam que isso está errado e deve mudar. A mobilização já começou e vai continuar e voltaremos a ocupar as ruas, no carnaval e quando for necessário para manifestarmos qualquer coisa, pois a rua não é da polícia, não é do bandido, muito menos dos políticos, a rua é da gente que gera toda a riqueza e a beleza desta terra, que sofre com a vergonha e a brutalidade impostas por todos aqueles que tem o poder instituído em suas mãos.

Este texto foi retirado do blog parceiro, Arteiro.blogspot.com, criado e criado pelo musico e jornalista Roqueto, deixo aqui suas palavras.


2 comentários:

Unknown disse...

é lamentavel isso ai
pazzz

Marcos Faleiro disse...

muito foda isso...

Os velhos meios "troglodíticos" de inibir o fervor da vida.

No Carnaval o policial samba por dentro, tão fortemente que precisa da cara feia pra esconder. Então quando nele o batuque é demais ele pega o porrete pra disfarçar...